Sunday, October 09, 2005

Vorazes

Ultimamente tenho me lembrado muito do Menino Maluquinho, o livro. E olha que só li na infância. Várias vezes, claro. Pura memória afetiva, daquelas que a gente não esquece. Quando eu era criança, já sabia que aquilo ficaria marcado pra sempre. E que, mesmo no futuro, já adulto, já véião, ainda pegaria fundo. Tô falando especificamente do final, lembra?

Era algo mais ou menos assim: falava que o Menino ficava sempre no gol. E que ele pegava todas as bolas. Mas teve uma coisa que ele não conseguiu segurar. Não conseguiu pegar nas mãos o tempo que passava.

E, então, ele cresceu. Virou adulto. Mas virou um cara legal. Mas um cara legal MESMO.

E eu ficava pensando o que significava virar um cara legal. Quer dizer, até hoje penso o que é ser um cara legal.

O termo "cara legal" perdeu um pouco da magia pra mim quando perguntaram pro Pitta (já devidamente fora da Prefeitura) como ele queria ser lembrado no futuro, e ele disse: "Como um cara legal".

Será que gente como, sei lá, me perdoem a obviedade, o Maluf, pensava em ser um cara legal quando criança? E será que ele se acha um cara legal hoje? E o Lula molequinho, lá nos grotões do Brasil, pensava sequer no futuro?

E a gente aqui? Será que na pressa de São Paulo, ainda resta tempo para lembrar essas coisas de infância? Claro que não, são tempos cínicos, pra que ficar perdendo tempo com essas questões tolinhas, metafísicas, né? Vamos falar que nem homem, discutir o que é importante na vida, fala grosso, bicha! Ai, que saco.

A coisa toda tem lá seu lado de crueldade, enfim. Porque lembrar de sonhos de uma criancinha que pensava naquele seu futuro distante é lembrar as mudanças que surgem, as trombadas da vida, os caminhos, descaminhos, a corrupção em todos os sentidos. Você pode dizer evolução, e não estará errado. Vamos lembrar com carinho nos sonhos perdidos, nos sonhos realizados, e estamos falados.

A UTOPIA

E viramos gente grande e vamos cavando brechas. Nessa brechas, vamos tentando recuperar algum frescor da infância. Senão piramos. Cavamos relíquias e réplicas do tempo em que pensar em virar um cara legal era algo que dava coceirinha na barriga.

O negócio, então, é arquitetar jeitos de voltar a ser criança:

Nunca curti jogar bola. Mas que delícia deve ser, né? Pô, manô, vamo lá? Futebolzinho com o povo da firma na quarta à noite? Gostoso voltar a ser criança por um dia.

Fazer compras. Se jogar na loja de CDs. Tem quem prefira olhar os carros na vitrine. As moças que compram
mil pares de sapatos novos. Ai, belos tempos de fantásticas fábricas de chocolates.

Transar. Você e seu amorzinho lá, agarradinhos, peladinhos. No frio, brincar de conchinha. Momento em que somos mais crianças. Sem pudores, apenas brincando, conhecendo o corpo. Memória afetiva. Intuição, prazer, tato.

Hoje, só intuição. Tenho sonho. Quero dormir que nem um bebezinho.

6 comments:

Anonymous said...

Tem aquele filme "Sob o sol de Toscana" em que uma das personagens diz que foi musa do Fellini e que ele sempre dizia que o importante na vida era não perder o entusiasmo infantil... Ah é, achei seu blog...hehe

Bruno said...

oi, carla! que bom que vc me achou!! eu não vi esse filme. Mas outro dia comi um biscoitinho chinês que dizia: "Homem feliz é aquele que não perdeu a candura da infância". beijo

samy said...

oi bruno!!!
sempre bom ler o que você escreve... conforta e instiga ao mesmo tempo...
saudades beibe...
beijinhos...

Bruno said...

samy! acho que conforto acaba sempre instigando,né? porque tudo que é muito confortável a gente quer pra sempre. e gosto muito de ter você aqui, biu?

Anonymous said...

salve a memoria afetiva, dom bys!
grande abraço,

Bruno said...

Xico Sá!!!! Estou honrado contigo aqui!! abração