Monday, November 21, 2005

O amor em Plutão



Quando fomos morar juntos, ela quis o prédio mais alto da cidade. De nosso apartamento, víamos a cidade inteira. Luzes de neón, faróis cintilantes, chuva ácida, carros voadores. E, lá de nossa torre, víamos as pessoas se doendo. Quando olhávamos mais alto do que o céu, dávamos de cara com Plutão. Eu e ela, garoto-Plutão e garota-Plutão. Órbita irregular, o mais distante dos planetas, 248 anos para rodear o sistema solar. Encontro improvável. Nos encontramos. Nosso caso de amor. Nada de ruim aconteceria conosco enquanto estivéssemos naquela órbita, eu e ela, lá no alto da cidade. Quando nossos planetas se chocavam, ela sentava na janela e comia seu macarrão. Eu ligava a TV, olhava para além da tela e fazia minha oração silenciosa: "Obrigado".
E logo entrávamos em órbita novamente.