Sunday, October 02, 2005

Mon amour

Essa é contada pelo Woody Allen, mais ou menos assim:

O cara vai ao psiquiatra e diz:

- Doutor, meu irmão pensa que é um frango.

-Por que você não o convence de que ele não é?

-É que eu preciso dos ovos.

Daí Woody Allen conclui:

Os relacionamentos são como esses ovos. Por mais loucos, irracionais e absurdos que os relacionamentos sejam, ainda precisamos deles.

E você?

Você precisa dos ovos?

Eu gosto de ovos. Podem ser ovos mexidos, ovos cozidos. Até cru eu topo. Já experimentou misturar ovo com shoyu e arroz branco japonês bem quentinho? É bom, experimente. Ovo cozido, aquele que você vai descascando e tira aquela pelezinha. Ovo quente, que você come de manhã. Omeletes, então...uma delícia.


Mas o fato é que somos equilibristas de ovos. Às vezes andamos em cima de ovos (ou de suas cascas). E vamos carregando vários ovos na mão.

Às vezes, resolvemos carregar apenas um. E você vai se equilibrando e vai ficando surpreso que o tempo passa e que você não escorregou em nenhum momento. E que ele, o ovo, continua lá, inteirinho na sua mão. Na sua mão quentinha, que vai chocando o ovo.

E um belo dia você se cansa. Você pega aquele ovo que carregou com tanto carinho e cuidado durante um tempão e deixa ele cair no chão. E quando ele está lá no chão, espatifado, você nem sabe mais se deixou cair de propósito ou se foi falta de atenção sua. No final das contas, dá na mesma, não é? Não há como não ficar chateado, claro. Daquele ovo bonitinho podia nascer um pintinho, você pensa.

Bem, já que estou citando Woody Allen, talvez você ache que eu ache o máximo essa coisa de viver relacionamentos intensos e breves etc. (e fracassados? ah, fracasso é tão relativo, você sabe, né?)

Ah, outra digressão básica. Também lembrando ele.

Na galeria de arte, dando em cima de uma moça:

-Oi. O que você vai fazer hoje à noite?
-Cortar os pulsos.
-E amanhã?

Bem, voltando ao assunto.

Não que eu ache o máximo precisar de tantos ovos. E, claro, eu procuro um ovinho para ficar chocando também. Só acho bobeira ficar acreditando em tudo que nos chega mastigado na vida, entre elas esse conceito de amor de supermercado.

Dá preguiça esse desespero em querer achar o ovinho definitivo de sua vida. Essa coisa de querer agarrar logo alguém porque você quer alguém para passar a velhice com você. Esse medo de ficar sozinho. A paranóia de se imaginar véio, carcomido, sem ninguém ao lado.

Amor tem que ser bacana. Um ovo no meio daquela dúzia. Sem idealizar um pouco não dá. Idealizando muito não dá. Amor tem que ser bacana. Para surtar, para gritar, para calar. Para acompanhar. Para crescer. Para procriar. Para evoluir. Para cantar no meio da noite. Para chutar latas no meio da madrugada. Para pedir silêncio no meio da madrugada. Para abraçar com carinho. Para dar beijinho de peixinho. Para trepar. Para arranhar. Para te morder e para soprar, meu amor, já que tenho que te doer. Para agora. Para o dia seguinte. Para quando der tempo. Para sempre e agora. Se não é pra sempre, é pra agora. Um agora que é eterno.

Claro, é uma barra nada agradável ficar sozinho, muitas vezes. O que não gosto apenas é essa busca insana por um parceiro, como se fosse um item indispensável a comprar no supermercado. Você precisa ter alguém. Solteiros são mal-vistos. São os esquisitos. "Se você está só é porque alguma coisa errada você tem", é o que os compradores compulsivos de relacionamentos vão dizer. Relaxa. Acredite em amor. No amor, não no produto amor.

E por que você quer tanto alguém? Você já pensou nisso para além de seu umbigão gigante? Para além do “eu quero alguém”? “Manhéééé, o Toddy tá quente!!!”. “Calma, filhinho dá aqui que eu esfrio o Toddynho pra você”. Provavelmente você quer alguém para "dividir as coisas", imagino. Ou porque "meu emprego tá bacana, a vida tá bacana, só falta um amor bacana para tudo ficar completo". (A vida, um dia, se completa?) Ou porque você quer se apaixonar. Simples assim.

Mas quando a barra aperta, reclamamos que o Toddynho tá quente. E, nessas horas, abrimos os olhos para todos os ovos: codorna, galinha etc.

Então, vamos lá:

- o seu umbigão tá na frente do seu ideal de amor? (e lá vão mais citações: o amor tá no coração ou no cérebro? existe o amor ou apenas as demonstrações de amor?)

- encontrar um ex-amor após muito tempo. Você fica desnorteado? Eu acho fantástico. É um momento que dá a exata dimensão do como vivemos várias vidas apenas em uma. (ah, isso dá muuuito pano pra manga)

- encontrar um novo amor. E você, que não acredita em milagres, o mais cético dos seres, de repente vê um milagre acontecer na sua frente. Com você mesmo. AQUELE milagre. O novo amor encarnado na sua frente.

- vamos falar muito disso pela frente? ah, vamo aí, vai?

7 comments:

Anonymous said...

Bruno, vc já pensou na quantidade de ovos que cabem num armário? Daria um belo omelete, neh? Beijo!

dá uma olhada aqui depois:
http://www.mattotti.com

Bruno said...

Fer-artista, obrigado pela dica do site do Mattotti. Tô devorando com os olhos. Quanto aos ovos, eles vão se acumulando no armário,e dali sai um omeletão. O truque é acertar o sal na omelete! Beijo

Bruno said...
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Bruno said...

Henrique! Que bom! vc repensou aquela sua teoria sobre leitura? valeu pela dica, vou dar uma bisoiada.

Anonymous said...

"não existe amor. Existem provas de amor"... lembra disso? numa daquelas aulas do Inácio, que vi repetido em Beleza Roubada...Eu? confesso que tb acho fantástico ficar desnorteada ao encontrar aquele ovo que deixei cair no chão ou aquela mão que me fez esborrachar... hehe! se cuida menino!

Júlia

Bruno said...

Eu lembro que tava quase dormindo na aula quando teve essa cena do filme, e até acordei! É ovo que não acaba mais, Júlia! beijo!

Anonymous said...

Li seu texto e bateu um saudosismo... de quando era criança e esperava ansiosamente meu pai preparar o tamagô com shoyu e shiro gohan bem quentinho... nada a ver com o papo dos ovinhos né? desculpa, mas é que bateu saudades!

Ah! E adorei o texto de quinta (Kar Wai)!

Erika