Sunday, June 24, 2007

Toda noite uma despedida (1)


Os momentos iniciais são tão desconfortáveis quanto os finais. Comecei a pensar nisso quando um amigo meu desabafou: “Terminar é uma delícia. Adoro terminar. É tão bom como quando a gente começa a namorar”.

Eu estava de novo na casa de Izumi. Ela sempre sabia como me deixar realmente mal. Toda vez que a gente brigava, aquelas brigas realmente feias, que te fazem pensar se vale a pena continuar insistindo, ela mudava tudo. Toda a decoração da casa.

Quer dizer, não chegava a mudar a cor das paredes, o sofá e nem chegava a trocar de televisão. Ela gostava de mudanças, mas se tudo mudasse, talvez Izumi esquecesse até seu próprio nome. Ela precisava de uma âncora.

E de novo eu cheguei, cabisbaixo, com o peito cansado de tanto brigar, e ela abriu a porta e falou para eu sentar. Caminhei por instinto até o sofá, mas não encontrei nada. Meus olhos levaram alguns rápidos segundos percorrendo a sala, até eu achar o novo lugar do sofá.
Izumi conseguira de novo. Eu estava me sentindo desconfortável e incomodado com aquela casa que era a mesma, mas que ao mesmo tempo estava tão diferente.

Ela não falou nada. Devia estar cansada também, mas eu sabia que esse era seu jeito de lutar. Me deixando perdido, dando tempo e espaço para eu remoer o que eu quisesse na minha cabeça.
Eu poderia me sentir culpado, sentir raiva dela, ter vontade de simplesmente sumir e não ter que encarar de novo mais um começo, não ter que me adaptar novamente a um novo espaço onde eu não sabia nem onde ficava o sofá, e nem que cor era a tampa da privada, e nem ter que pensar em recomeços, ou pior, novos começos, porque acho que no fim das contas, tudo estava se encaminhando para isso. Mas antes teríamos que vislumbrar um fim.

2 comments:

Adriana Fujiki said...

Como vc consegue escrever essas coisas??
Impressionante...

Incomoda e ao mesmo tempo conforta.

Parabéns!

Bruno said...

é, adriana, acho que as coisas são assim, né? incomodar e confortar, morder e soprar! beijo!