Tuesday, October 31, 2006

Gloria


Entrevistei Patti Smith no último sábado, dia 28 de outubro, no Rio, para a Folha (http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u65593.shtml). Como no jornal não cabe tudo, vou colocar a entrevista inteira aqui. Vou tirando a fita aos poucos, e postando, para não perder o embalo. Mais tarde, também, as impressões. Ver Patti, comprida, magra, longos cabelos brancos, de chapéu, gravata, blazer, tipo Diane Keaton em Annie Hall, dobrar o corredor, e vir andando em minha direção, e sorrir para mim e estender a mão e perguntar como eu estava, são daquelas experiências que....precisam de mais espaço para se falar....Bem, aqui vai, aos poucos, a entrevista com a Patti Smith:

(foto do Alexandre Schneider, do UOL)

Você poderia falar sobre as suas primeiras impressões do Brasil, e não apenas coisas relacionadas às pessoas, à praia etc?

Bem, estou aqui só há um dia e meio. Minhas primeiras impressões, é claro, são saindo de carro do aeroporto, e achei tudo muito diverso e interessante em termos de arquitetura. As partes que parecem ser mais pobres continuam interessantes, e têm uma estética específica que achei interessante e atrativa. As pessoas têm sido muito fervorosas e.... bem, estou aqui há um tempo muito curto, mas todos têm sido solícitos, respeitosos e brincalhões. As pessoas parecem ter um bom senso de humor, o que é importante, e gosto da comida, porque gosto de peixe frito e muita salada (é como eu gosto de comer), então é fácil para mim comer, e sentar na praia e comer bacalhau, e conversar com as pessoas, rir com as crianças e escutar as pessoas falando sobre as eleições, o que achei interessante porque parece que não importa para onde você vá, todos estão encarando os mesmos problemas, que é a corrupção, e ter um acordo com a corrupção, ter um acordo com a mídia também é ser corrupto. Então, temos muitos dos mesmos problemas, e a diferença entre os ricos e os pobres é uma grande disparidade. A América tem muitos dos mesmos problemas. Eu não diria que estou comparando países, porque não sei muito sobre seu país, mas nós sofremos das mesmas coisas, a destruição do nosso meio-ambiente, os ricos ficando mais ricos, o governo sendo corrupto, e acho que em qualquer lugar que eu vou, as pessoas parecem estar sofrendo esses mesmos desafios. Outra coisa que observei é a beleza da região rural, Vi só um pouco dela e me faz querer voltar. Quando eu voltar, e passar mais tempo no Brasil, então poderei te dar uma resposta mais inteligente.

Você tem algum conselho para dar aos brasileiros? Amanhã vamos escolher nosso novo presidente...

Apenas diria às pessoas para seguirem seu coração e votar. É algo muito difícil, porque no meu país, nós temos nos mostrado muito pouco nas eleições. Apenas metade das pessoas votam, o que é deplorável, e as melhores pessoas nunca vencem. Os melhores partidos independentes têm passado por um período muito difícil para se tornar mais fortes porque somos dominados por um sistema de dois partidos. Então, uma pessoa realmente honesta e inteligente como Ralph Nader não tem conseguido se tornar presidente. E se ele fosse presidente, o mundo inteiro seria mais feliz, acredite em mim. Então, se eu fosse dar algum conselho, eu diria: “Não faça como a América faz, não fique sentado na sua casa. Saia e vote, porque um voto realmente é importante. Cada único voto é importante. Se você tem duas pessoas concorrendo, e uma delas tem mais chances de servir melhor ao povo, vote nele. Porque alguém vai governar. E os governos, em todos os lugares ao redor do mundo, tem se esquecido de seu dever. Os governos estão lá, na verdade, para servir ao povo. Não é o povo que serve ao governo. O governo serve ao povo, mas em algum momento no decorrer da história, em todo o planeta, o governo se esqueceu disso. É como nas igrejas, ou no Vaticano, ou qualquer coisa. O porquê de eles estarem lá é para servirem ao povo. Eles não estão lá para dominar o povo. Eles estão lá para servir às pessoas. Seja para ajudá-las, ou para ajudá-las a se organizar, para oferece-las um lugar para culto, um lugar para exercitar suas visões políticas. O governo e a igreja servem ao povo.

(continua...)

Friday, October 20, 2006

Vou tocar


Um final de semana, duas coisas

Gheirart manda avisar:


Preparados para a 6ª edição do famoso 10:15 Saturday Night?

G-há e Serge tocando novidades e popices descompromissadas
+ Bruno Saito (Ilustrada) e Plínio César (Espaço Retrô) fazendo coro à nossa temática.

Intervenções com o Dietrouxas Projekt (projeto com releituras de Marlene Dietrich) + Brazilian Cure (minha banda cover do Cure da década de 90). Tudo acústico e rápido, claro!

As imagens ficam por conta de Alexandre Bispo.

Como a festa já virou balada, não se sinta intimidado. Você pode reservar uma mesa, passar antes de ir para algum lugar, reencontrar os amigos, levar sua mãe, beber um drink no balcão, dançar Suede na pistinha improvisada etc. Enfim, ser o q você realmente é! Rs

Augusta, 2052 - em frente ao cinesec • tel.: 3062-4429 • R$ 3
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=7255796


e Rodrigo também manda avisar:


As cantoras Lulina e Karine Alexandrino e a banda Seychelles dividem o palco do Coppola neste domingo (22). O show faz parte do Projeto 2em1, organizado pela casa.A neo-tropicalista Karine mostra hits do segundo disco, o CD Querem Acabar Comigo, Roberto.

A recifense Lulina se prepara para lançar o primeiro disco, portanto antecipa algumas melodias deste material.O Seychelles remonta o rock feito na Inglaterra nos 70, misturado à vanguarda paulistana do começo dos anos 80 e o psicodelismo de Mutantes e Secos & Molhados. Apesar das referências do passado, a banda busca "reinventar" o rock, misturando música eletrônica e jazz. (GUIA MAIS - SHOWLIVRE)

Local: Coppola (R Girassol, 323, Vila Madalena, São Paulo-SP)Hor: 19h. Os shows começam 20h!Ing: 25,00DJs: MARCELO COSTA e BRUNO SAITO

MANDE NOMES PRA LISTA!!! show@2emum.com.br e pague R$ 12,50 por 3 shows!! heheheEsta mensagem foi enviada por Rodrigo De Araujo.
Para ver o perfil de Rodrigo, clique em:http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=4233995506153258768

Thursday, October 19, 2006

O kitsch e o noir



Não é muito difícil entender por que "Dália Negra" divide opiniões. Para começar, não é um entretenimento leve, daqueles para se assistir despreocupadamente entre uma pipoca e outra ao lado da namorada. Afinal, acompanhar as imagens de uma mulher que é cortada ao meio e, quase pior, a narração de um legista que conta como certos órgãos internos da vítima foram removidos, não é algo muito agradável para quem não é fã de programas policiais do mundo cão da TV _além de a digestão da pipoca pedir temas mais amenos.

Mais do que isso, "Dália Negra" incomoda porque coloca a cabeça para pensar (e não se trata de filme de "arte", "francês", "cabeça" ou "da Mostra"). Quem procura história (e quem acha que um filme bom necessita de historinhas) vai logo reclamar que o longa de Brian de Palma é enrolado demais, tem muitos personagens, não dá para entender direito quem faz o quê, quem é o culpado do quê.

O que não deixa de ser verdade. Certos personagens coadjuvantes vão aparecendo do nada, somem fisicamente em determinado momento e somem, principalmente, na memória do espectador, quando uma profusão de nomes volta e meia é pronunciada. Estamos todo o tempo às voltas com pistas falsas. Pode até parecer que é até mais um filminho qualquer sobre a investigação de um assassinato.

"Dália Negra" requer ainda uma certa dose de humor _e, para entender qualquer tipo de humor, é necessário, novamente, pensar. Ainda mais porque o humor de "Dália", filme extremamente sombrio, é sutil, quase imperceptível, ambíguo, enfim, são várias piadas internas, que não buscam a gargalhada.

Quem não enxerga o humor de "Dália Negra" provavelmente acha que clichês são um pecado mortal, e que usá-los aos montes em um filme o torna ruim. Filmes ótimos podem ser repletos de clichês, da mesma forma que um amontoado de clichês não tornam necessariamente um filme bom. Não se trata da quantidade, mas sim da maneira com que são usados.

Assim, De Palma une o clichê e o humor, numa espécie de sátira/homenagem a Hollywood. E esta indústria, seja a da era clássica, seja a dos dias atuais, é indissociável da idéia de clichê _um molde para reproduções infinitas, feitas ao gosto do espectador, para não correr riscos de flop nas bilheterias.

Costuma-se dizer que "Dália Negra" é um filme frio. Sim, ele é deliciosamente frio e calculista, como as piores "femme fatales". Ou então costuma-se dizer que acontecem coisas demais na parte final, que há um excesso de revelações, como se De Palma tivesse desleixado na montagem. Novamente, há, sim, uma certa ironia nisso tudo, e não há como não pensar em certas situações e personagens maneiristas que David Lynch insere em seus filmes _a série "Twin Peaks" é repleta delas_ ou nas conclusões dos antigos desenhos do Scooby-Doo, quando os mocinhos retiravam a máscara do vilão.

Sátira que fica evidente quando um dos personagem faz uma observação em relação à arte moderna, reprovando-a, já que o quadro em questão não representa a beleza clássica, mas sim as deformações da alma. O cinema moderno de De Palma relê o filme noir e seu imaginário, numa estrutura que de certa maneira caminha para o kitsch, e encontra um saudável ponto de conexão com o cinema psicológico de David Lynch.

Tudo em "Dália Negra" tem a ver com a irrealidade das ações, das falas, das verdades e mentiras da imagem. A cena inicial, de conflitos nas ruas, por exemplo, não faz questão nenhuma de fingir-se realista. São claramente atores em ação num estúdio. Veremos a Dália viva apenas na projeção de um filme vagabundo usado nas investigações de seu assassinato _ela não é um ser concreto.

Ou então o recurso da voz "off", necessária ao noir _Pensamentos e ações de Bucky narram o que veremos à frente, ou o que deveríamos ver_ e as "femme fatales", devidamente envoltas em nuvens de cigarros, que surgem conforme manda o clichê (uma delas é bissexual, a outra foi marcada em ferro). São mulheres malvadas, donas de falas geniais ("Me esforcei muito para ser uma vadia", ou algo do tipo, diz a personagem de Hillary Swank em determinada altura, "mas ela [a Dália Negra] tinha um talento natural para isso").

Não há verdade nas imagens, ou melhor, não há uma única verdade, e quem já reclamava que "Femme Fatale", seu filme anterior, era ruim porque tudo no final era "só" um sonho, vai reclamar novamente, já que De Palma retomou ao seu tema básico.

"Dália Negra" volta assim ao universo de tintas B de "Vestida para Matar" (e suas soluções psicológicas e a referência a "Psicose"), "Dublê de Corpo" (a imersão no universo pornô, a referência a "Janela Indiscreta" e a loira puta e fatal) e "Um Tiro na Noite" (novamente a puta, o imaginário invadindo o real e a referência a "Depois Daquele Beijo"). Assim como personagens desses longas anteriores, Dwight irá se sentir terrivelmente atraído pelo perigo e pelo mórbido, já que irá transar com a "femme fatale" Swank, espécie de duplo da moça assassinada e retalhada. A diferença é que, agora, trata-se de um cineasta com pleno domínio dos seus recursos. Com este filme, fica ao lado de cineastas que estão no auge, como Lynch e Almodóvar.
E, como eles, mantém um pé nada reprimido no "mau gosto" de seu passado, e encarna outro estereótipo, o do velho safado que perde de vez seus pudores.

Originalmente escrito para http://ilustradanocinema.folha.blog.uol.com.br/

Wednesday, October 04, 2006

Ano passado em

Quando você me procurou, eu já não mais existia. Não consegui te escrever, não consegui te procurar, a velha história da vó contada ao pé do ouvido....mas ando tão ocupado, você sabe, essa vida corrida que não dá tempo nem para respirar. Mas quando você me procura, eu me lembro de como fomos, de coisas que a gente falava à noite, de viagens que a gente faria. Nossa história não existiu, ela vai existir ainda. As historinhas mais secretas de criança, daquelas que a gente só lembra quando a gente conta, os planos futuros e os empregos que nunca tivemos mas sempre planejamos, e a virada na vida que sempre surgia na virada do ano. E cada pedacinho de lembrança, e cada frase que ainda fica por aqui, e cada lembrança de rosto seu, e cada expressão minha que eu fiz para você e nunca vi, mas que me recordo tão bem. Será que vamos conseguir apertar a mão bem forte para ficarmos juntos, e não irmos embora, e não nos perdermos e não sermos arrastados ? E o que nos arrasta? E se esse tempo todo longe for apenas um lapso, e de fato nem um dia tiver se passado ? Estou do seu lado, e se as palavras omissas não chegam até você, tudo é uma questão de tempo. Aquele que você procura sempre retorna.