Sunday, August 26, 2007

Fim de semana



E nós nos perguntamos quando é que vamos chegar ali

Wednesday, August 22, 2007

Eu chovo



Esta é a Pipilotti Rist. Ela também chove.

Vem, vamos dançar



Atolados no sofá, num final de semana de tantas opções e nenhuma escolha, eles resolveram ficar em casa mais uma vez. Sem festas, sem jantar na casa de amigos, sem passeios no parque. Ficariam apenas os dois.

Sem sexo.

Antes, era a cada cinco minutos. Naqueles tempos, deixavam uma garrafa de água ao lado da cama, para não desperdiçarem nenhum instante.

A televisão, dona do lar, agora gemia pelos dois. Naquele sábado à noite, eles vislumbraram uma inusitada esperança. Estava lá, aquele mesmo filme que viram juntos há tantos anos, logo no começo, dos dias da água abundante.

Izumi podia jurar que era, de fato, o primeiro filme deles. Durante um tempo, foi “o” filme, mas apenas por um tempo, porque logo depois esse tipo de intimidade e cumplicidade não dizia mais nada para os dois. Tinoko até se levantou, ergueu as costas e sentou ao lado dela. Mas não chegou a pegar em sua mão.

Juntos, iam mais uma vez ver o filme. E, naquela antiga lembrança, os dois novamente tinham um pensamento em comum. Esperavam sentir de novo, apenas mais uma vez antes do fim, aquela inspiração que tanto ajudou para que eles se unissem. Daqueles filmes que lhes davam vontade de sair do cinema correndo para, eles mesmos, entrarem numa trama.

Mas, enquanto a ação se desenrolava, Izumi e Tinoko ficaram impassíveis, ela com sua meia rasgada, ele com sua calça encardida. Não conseguiram ver nada na pequena tela, a não ser aquela outra história que eles já estavam cansados de assistir. E repararam que aquele filme não era tão bom assim.

Sunday, August 12, 2007

The girls and the boys





Não importa se você é mulher ou homem. Somos todos James Bond com Bond Girls ou Bond Boys em nossas histórias

Máquina de café




Você iria achar superestranho, e eu não iria te censurar. Por isso, só vou te contar daqui a um tempo. Não dá para forçar intimidades assim, logo no começo, não é? Claro, a gente sabe que no começo tudo é um grande teatrinho. Eu finjo que sou perfeito, você finge que acredita, eu vejo beleza em cada espirro que você dá, você fica prestando atenção em cada nuance das cores do meu cabelo, eu acho você a garota mais fantástica do mundo. Nós acreditamos. Temos que acreditar.

Talvez por isso mesmo não dá para te contar tudo. Vamos aos pouquinhos. A cada dia eu prometo descer um degrau do céu. Mas você vai comigo. Ah, claro, eu tenho preguiça de sair todas as noites. Sim, você acha um saco ir ao cinema todo final de semana. Tá, Woody Allen não é tão genial assim. O quê? Você ficou com ciúme das minhas amigas? Mas você não tinha prometido jantar comigo hoje? A cada dia, vamos descendo um degrau até a gente chegar numa base bem segura, onde vamos poder nos abraçar bem forte.

Por enquanto, eu faço um esforço tremendo para acordar antes de você. Só para ter aquela estranha sensação que dura alguns milisegundos, depois que a gente acorda, depois de um sono gostoso. Alguns breves instantes em que você não sabe quem é, onde está, se é dia, se é noite, qual é o seu nome. Só sei que dá um alívio enorme acordar ao seu lado. Gosto de olhar para o lado, e ver que você está ali.

E fico um tempão bem quietinho, só olhando para você. Assistindo a você dormir, e pensar o quanto esperei tanto para que a gente enfim se conhecesse, e ficasse junto. E vou relembrando cada etapa. Da primeira vez que te vi. Forço a cabeça pra lembrar que roupa você estava usando. Se você estava sorrindo ou séria. E depois forço um pouco mais, e tento lembrar qual foi a sensação que eu tive na primeira vez que ouvi a sua voz. E vou buscando, palavra por palavra, a primeira frase que trocamos.

Fico aqui, bem quietinho ao seu lado, para não te acordar. Sim, é meio estranho, sei que você não é um filme ou uma instalação num museu para eu ficar assim parado e te olhando.

Mas eu tenho tido dias felizes ultimamente, e eu, que nunca gostei de acordar tão cedo, agora tenho mudado de hábitos, e deixado aquela mania de ficar tão sozinho de lado. E eu preciso te olhar bastante, para ter certeza de que você está mesmo do meu lado, e para ter certeza de que você realmente existe, e para que eu não confunda mais os sonhos e a realidade e os desejos e as coisas que já foram, e as histórias de outros que eu li ou ouvi no caminho para casa e as histórias que eu mesmo vou construindo, e as histórias que eu vou escrevendo, e as histórias que nós vamos vendo nos filmes, e as histórias que vou criando todas as noites só na minha cabeça.

Saturday, August 04, 2007

The Greatest



E quantos pinos vão cair?
Mas no final das contas isso não importa; nunca vou saber, e nunca vou me lembrar

Noite passada, manhã ressecada



Izumi passou a noite inteira ao lado da janela. Era uma festa, sabia bem, e esta era a oportunidade de encontrar aquele famoso alguém legal, alguém para levar para casa e passar algum tempo. Alguém para ao menos acordar ao seu lado. Mesmo que esse alguém acordasse antes dela, tossindo por causa de tantos cigarros da noite passada. E esse alguém fosse embora antes de ela acordar, sem ao menos deixar um bilhete, ou um beijo de despedida.

Isso não era problema para Izumi. Ela passara a tarde inteira naquela cabeleireiro, e passara a tarde na loja, escolhendo as melhores roupas, mas aquilo não era para ninguém. Ela queria acordar sozinha no dia seguinte. Izumi queria celebrar a sua própria existência.

Porque esta noite ela se dedicaria apenas aos seus prazeres. Ela beberia o quanto quisesse, não teria que dar satisfações a ninguém. As coisas seriam mais divertidas, no final das contas. Ela dançaria as músicas que desse vontade, e cantaria até a voz lhe sumir. Não precisava de voz naquela noite, já que não queria falar com ninguém. Apenas suas músicas prediletas, e sua dança particular. Poderia chegar à hora que quisesse, poderia ir embora sem ao menos perguntar se poderia ir embora. Era apenas colocar a mão na maçaneta, estou indo embora.

Não pensaria em Tinoko, e não pensaria nas tardes preguiçosas, e fingiria não sentir saudades dos tempos em que tinha que negociar cada gole de bebida, e cada respiro aliviado. Porque há tempos não se lembrava mais. Izumi estava anônima ao lado da janela, e aquilo era tudo que ela sempre quis. Ao menos por uma noite, ao menos nesta noite, em que se sentia a maior de todas.